domingo, 6 de novembro de 2011

Amontoado humano comprova ruína do sistema penitenciário amapaense









Há tempos que a situação do sistema carcerário vem sendo denunciada por agentes e técnicos penitenciários. A demanda de presos não acompanha o número de profissionais para fazer a vigilância do presídio e tampouco, dos próprios detentos. Sem estrutura e condições para executar as atividades a contento, os servidores do Instituto Penitenciário (Iapen) denunciam problemas de saúde originados da tensão psicológica e do desgaste físico dentro da cadeia.
Segundo os agentes penitenciários, em 2001 a população carcerária era de 583 presos. Para apenas 188 agentes e 30 educadores penitenciários fazerem a vigilância dos internos. Dez anos depois, o número de detentos quase tripilicou. Hoje são 1.900 presos para 328 agentes e 54 educadores.
A disparidade na relação de detentos para a quantidade de agentes penitenciários demonstra os sinais de fragilidade do sistema. Para não ser ameaçados de morte, os servidores precisam se submeter às regras impostas pelos presos. “O agente é o mais vulnerável no caso de uma rebelião. E diga-se de passagem uma moeda de troca muita fraca”, comentou um agente do Iapen que pediu para não ser identificado.
Especialistas em medicina do trabalho caracterizaram a profissão como uma das atividades mais estressantes do mundo e a segunda mais perigosa. Com tantos prenúncios negativos, a equipe que faz a vigilância do presídio antecipa uma inquietação coletiva. “Existem aproximadamente 1.600 presos só no cadeião [conhecida como a área mais arriscada]. Imagine daqui a 05 ou 10 anos, como vai ficar a nossa situação? É provável que esta população carcerária atinge os 3 mil ou 5 mil detentos”, retrucou um agente que trabalha especificamente com este público.
Outra crítica dos agentes é quanto a autonomia para agir. A autarquia foi criada sem que existissem recursos para estruturar fisicamente. Segundo os servidores, a construção é frágil e não existem circuitos de vigilância permanentes. O comprometimento da estrutura é tamanho que presos fogem apenas quebrando a muralha feita de cimento e tijolos. Não existe nenhuma outra proteção além do muro que circunda a penitenciária.
As guaritas também já começam a apresentar rachaduras. Nas celas a situação é ainda pior, os detentos dormem com esgoto a céu aberto e sujeitos a presença de vetores como ratos, moscas e baratas.
Manter a disciplina e a segurança da penitenciária ainda é o maior desafio dos agentes e educadores penitenciários. Para o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários (Sinapen), Alexandro Soares a administração da cadeia deveria priorizar a assistência psicológica aos profissionais, que colocam suas vidas a disposição da segurança pública estadual. “O Estado é quem deveria ser denunciado, processado e penalizado pela maneira com que exige o trabalho dos funcionários do sistema carcerário. A gente não pode mais permitir que a penitenciária seja um amontoado de presos e celas imundas, que colocam a nossa vida em risco”, declarou o presidente do Sinapen.

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