segunda-feira, 29 de agosto de 2011

PAU QUE DÁ EM CHICO, DÁ EM FRANCISCO


Berlinda: Instrumento medieval de punição

Sim companheiros como se não bastasse nosso local de trabalho ser o paraíso dos “cargos de confiança” (e eu não sou de confiança não?) agora o IAPENvirou palco de investigações de detetives e espiões que reviram computadores e telefones em busca do perigosíssimo elemento que vazou as fotos da Operação Voucher. Tanta coisa errada, corrupção, tráfico, mortes e espancamentos na penitenciária, e a grande prioridade é achar um funcionário que cometeu um erro (em minha opinião) insignificante frente ao caos administrativo, funcional e político desta instituição penal.

De Datena na Bandeirantes ao Chumbo Grosso daqui, toda imprensa feita pelos ditos “repórteres policiais”praticam a exibição de pessoas que muitas vezes nem presas estão.

Vídeos de segurança recentemente foram divulgados do jogador de futebol que “suspeitava-se” ter atirado sua namorada do 15º andar. Rezas com a folha da curicaca, piadas, interrogatórios, julgamentos, descrições do “crime” são narrados pelos repórteres que ficam de plantão na frente dos CIOSPs, aguardando os que chegam conduzidos pela polícia. E estas cenas são o lazer do “depois do almoço” de muita gente pelo Amapá e pelo Brasil. Pessoas que nem prestaram depoimento às autoridades do Estado, já o fizeram ao grande Circo de Horrores da imprensa. E isso é visto como algo muito natural. Até que um dia aconteceu a mesma coisa com “Francisco”. Figurões de Brasília foram expostospela mídia amapaense e Dilma Rousseff ficou chocada. Mas se o pau dá em “Chico”, ninguém se importa. O “Chico” é exibido diariamente, chacoteado e marcado pela mídia como se marca gado. E ninguém se importa. 

A Operação Voucher focou nos milhões de reais desviados pelos envolvidos, mas hoje o foco é encontrar um pequeno funcionário do longínquo sistema penitenciário do Amapá.

Que brusca mudança de objetivo não?

Na Idade Média, a berlinda (veja imagem) era usada para expor o ladrão em praça pública. Sentenciado a ficar três, quatro dias à disposição de toda aldeia, para que todos o identificassem como criminoso (uma placa era colocada com nome e crime praticado). Durante este tempo as crianças jogavam-lhe frutas podres e excrementos, os anciões davam-lhe tapas na face e os comerciantes chutavam-lhe o traseiro. Hoje a berlinda eletrônica é a internet e a TV, mas a prática é a mesma. 

Espero que de agora em diante a lei se faça valer para “Chico” e para “Francisco”.

Que se preserve a imagem do “ladrão de pão” e a do “ladrão de milhão”. 

Porque a Justiça usa venda para não distinguir “Chicos” de “Franciscos”.


Zohar Oliveira


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